A minha mãe ligou-me ontem a tentar disfarçar a aflição na voz. Percebi que estava perturbada mas deixei que fosse ela a tomar iniciativa de explicar. Quando me perguntou se tinha visto as notícias, percebi tudo. As desgraças que têm assolado os noticiários têm sido relacionadas com crianças, o que deixa qualquer mãe aflita. Mas quando, ao final do dia, se juntou a terrível notícia que o filho da Judite de Sousa faleceu vítima de um acidente numa piscina, a minha mãe pegou no telefone e quis ouvir a minha voz.
Há uns anos, era eu uma miúda imprudente, aquando de um mergulho numa piscina fluvial meia cheia, bati com a cabeça no fundo. Com força. Ainda me senti meia zonza debaixo de água mas reagi instintivamente à procura de ar e emergi. Os segundos que demorei a chegar à toalha foram todos os que bastaram para que um alto enorme me aparecesse na testa. Liguei aos meus pais e fomos consultar o médico de família. Não tinha tonturas, não estava enjoada, nem sonolenta. Não tinha partido a cabeça mas feito uma pequena fissura que deixou escapar sangue para debaixo da pele, daí o alto em forma de ovo. Ordens para não dormir nas horas seguintes, pomada para a zona afectada e compressas diversas.
Durante 15 dias o corpo foi reabsorvendo o sangue. Os olhos ficaram raiados de sangue e a pele mais fina à volta dos olhos demonstrou o 'deslizar' do sangue debaixo da pele, pelo que passei por pele preta, roxa, azul escura até ficar só amarelada e depois desaparecer. Ainda hoje sinto debaixo da pele, uma pequena fissura cicatrizada na testa.
Tive muita sorte. Sei isso e cada vez que me lembro daquela tarde, agradeço ao meu anjinho da guarda. Podia ter desmaiado e ficado submersa. Podia ter feito sérios danos no cérebro. Podia ter sido outra desgraça. E depois quem fica, é quem sofre.
As mães dos meninos que sofreram o acidente em Penela. A mãe, que num pânico desenfreado, saiu da casa a arder e o filho ficou para trás. A mãe que tem nome público e perdeu o menino já crescido, mas o seu único filho.
Quando as notícias não mostram mais nada sem ser desgraças destas, são, sem dúvida, dias terríveis. Aos pais que ficam, todas as forças do mundo para voltar a viver.
Eu nem consigo imaginar tal dor...
ResponderEliminarmesmo, nem imagino a dor que deve ser e espero nunca vir a senti-la, deve ser um choque enorme..
ResponderEliminarTiveste realmente muita sorte e ainda bem que assim foi.
ResponderEliminarAcredito que seja muito doloroso para os pais... :\
Quem fica é quem sofre, como dizes. Não imagino a dor destas mães...
ResponderEliminarNão imagino a dor dos pais, é impossível
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